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O aumento da pobreza

data-filename="retriever" style="width: 100%;">Recente pesquisa do Datafolha mostrou que 44% dos brasileiros acredita que o Brasil pode virar comunista após as eleições de 2022. A concordância com esse cenário é ainda maior entre os eleitores que declaram intenção de voto no presidente Jair Bolsonaro (61%) em eventual disputa pela reeleição. Por outro lado, 50% da população acha que não há risco de o país deixar de ser capitalista.

Seja como for, o número dos que temem o comunismo é expressivo. O mais impressionante é que a maioria dos que pensam assim não tem a menor ideia do que se trata. Via de regra, faz uma confusão entre socialismo e comunismo. Marx definiu socialismo como a ditadura do proletariado e, vagamente, o comunismo com a frase "de cada um, segundo suas possibilidades; a cada um, segundo suas necessidades". Tanto quanto sei, o socialismo (ao menos na definição de Marx) não aconteceu em lugar nenhum do mundo; o comunismo menos ainda. Nem o comunismo "come criancinhas", nem o capitalismo é o "céu na terra", principalmente, se você é pobre.

A volta da inflação e o desemprego, que atinge 14 milhões de pessoas, obrigam milhares de brasileiros, especialmente os mais pobres, a mudar a dieta para sobreviver em meio à disparada de preços. O consumo de pé de galinha, de osso bovino e suíno, ovos e de macarrão instantâneo estão cada vez mais presentes na mesa dos brasileiros mais pobres. Até o osso, geralmente dado de graça nos açougues, passou a ser vendido devido ao alto crescimento da demanda.

Segundo os dados mais recentes do IBGE, o país tinha 13,5 milhões de pessoas em situação de extrema pobreza, de acordo com a definição do Banco Mundial. Somando-se os que estão na linha da pobreza, chega-se a 25% da população do país. As características e a distribuição da população em situação de pobreza e extrema pobreza chamam a atenção. Os pretos e pardos correspondem a 72,7% dos que estão em situação de pobreza ou extrema pobreza - o equivalente a 38,1 milhões de pessoas.

Em 2020, a parcela de 1% da população brasileira com maior renda mensal ganhava, em média, 35 vezes mais que metade dos brasileiros com os menores rendimentos. O rendimento médio domiciliar per capita dos mais ricos foi de R$15.816, enquanto a renda média do grupo mais pobre foi de R$ 453. O rendimento mensal médio real passou de R$ 2.292 em 2019 para R$ 2.213 - valor mais baixo desde 2013. Este recuo corresponde a uma queda de 3,4%, a mais intensa da série histórica da pesquisa iniciada em 2012.

Segundo a ONU, o 1% mais rico da população concentra 28,3% da renda total do país, conforme ranking sobre o desenvolvimento humano. O Brasil perde apenas para o Catar em desigualdade de renda, onde 1% mais rico concentra 29% da renda. O Brasil ficou na 79ª posição no ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Medido anualmente, o IDH vai de 0 a 1 - quanto maior, mais desenvolvido o país - e tem como base indicadores de saúde, educação e renda

De acordo com dados do Senado Federal, durante a primeira onda do coronavírus, no ano passado, mais de 30% dos 211,8 milhões de residentes nos 5.570 municípios brasileiros tiveram de ser socorridos na etapa inicial do auxílio de R$ 600, aprovado pelo Congresso. Os cálculos variam entre 67 e 68 milhões de brasileiros na primeira fase e cerca de 57 milhões na segunda rodada, a partir de setembro, quando o auxílio foi reduzido para R$ 300. Em 2021, o auxílio foi cortado e os pobres ficaram entregues à própria sorte.

Talvez, você seja um cético e não acredite nos dados apresentados. Ou então, quem sabe, você ache a economia uma "ciência lúgubre", que o pessimismo faça parte da natureza do economista. Sobre isso, não lhe tiro a razão. Então, simplesmente, faça o seguinte: aproveite o sentimento fraternal de final de ano e olhe à sua volta. Você verá pobres em toda a parte. São mais reais do que você imagina. Eles, com certeza, não têm medo do comunismo.

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